Indisciplinados

"Na obra de Bete Giacomini algumas personagens representam uma ideia e movimentam-se conforme as variantes do discurso, perseguindo obstinadamente as reflexões sobre as dores do mundo, no caso de Indisciplinados, as dores do amor. Na metáfora, a imagem tem que substituir o objeto perfeitamente e é isto o que Bete faz nesta novela. O que importa é a metáfora. A exatidão da metáfora. No programa de rádio “Amor roído”, a protagonista Julia trata do amor e suas tramas, sempre tentando dar esperança ao ouvinte. O seu principal interlocutor para lidar com os temas do programa e com o rompimento de uma relação de dez anos é uma personagem que apresenta disciplina e sabedoria. “Você insiste para que eu fique nu, Júlia. Não posso esconder que guardo coisas profundas e que à superfície pareço fácil (...) poderia me apresentar com grandeza, com grandiloquência, e afirmar que pertenço a tudo que vive.” A personagem permite à Júlia cavar as profundidades de si, o que é o segredo para encontrar um manancial, um terreno fértil. Nesse percurso subterrâneo, o que se descobre instaura uma específica forma de olhar. Mas a autora não fica apenas na imagem, faz a metáfora entrar em ação e viver na personagem. Observando-se bem, o texto substitui um grande monólogo através de imagens em que Júlia se pergunta o que é melhor para o ser que ama: permanecer preso à disciplina ou sair para o mundo e viver o amor, enfrentando as perdas e o abandono? Cabe ao eleitor identificar as metáforas e imagens para reconhecer as dores e as alegrias do amor."