"Viver é um ínfimo momento, a escrita, uma caneta em punho, abrindo frestas, para o bem-dizer do olhar, e assim parte Gerson Nagel, no seu périplo entre as nuvens do muito mais alto que o céu, para nos presentear com este O que ficar Desperta. Livro da lavra de ouro deste parceiro de versos e vida que nos convida a divagar, devagar, entre seus versos veros, simplicidade complexa de cuidadoso burilar. E, com muita honra, escrevo estas linhas para o pé da orelha do livro, como se me desse a oportunidade de morder o lóbulo do leitor e chamá-lo à vista desses poemas que passo em revista, para alegria e júbilo. Túrgido como um mamilo reteso, arrepiado de erotismo e filosofia, deixemo-nos à guia de Nagel, poeta experimentado, desassossegado como Pessoa, marginal como Wally Salomão, cálido como cabe aos melhores da grei. Sem lei nem olvido, poeta das carnes expostas até o osso, do pedregoso ao veludo. Taludo no que concerne, suave, se na epiderme acaricia sua amada. Poeta dileto das fadas, que trazem Poesia. Sua lira, estridente, ranger da gargalhada nos dentes, e uma faca entre eles, se preciso. Apuro do poema trabalhado parecendo improviso. Nítido, no sentir e falar entre as brumas do olhar. Em suma, um poeta necessário nesses tempos de arrefecimentos do sentir, coração sem cimento, carmim das fibras expostas, respostas para as perguntas sem-fim. E assim se vai Nagel, admirável, sucinto, golpe de lâmina nas carótidas, e as cascatas rubi que senti. O que ficar Desperta nos faz acordar para a vida gregária da qual a peste nos tolheu. Humanos, demasiadamente humanos, como Nietzsche, Nagel oferece-nos este sentimento acolhedor, na surpresa, de que nunca poderemos ser as presas da acomodação. Abstração e ação na tessitura de cada poema, como deve ser em Poesia. E, neste livro, estamos à frente de um autor maduro, burilado na experiência estética, agitador cultural, poeta, artista que nos brinda com uma poesia de qualidade ímpar, necessária, essência para além das ciências, sentires garimpados deste seixo imenso que é o ser, sem tirar nem pôr, sem regras nem limites, como se a dizer-se à alma: Irmã, estamos quites! Evoé, Gerson Nagel! Evoé, O que ficar Desperta! E vida longa, à obra e ao Poeta! Fábio Amaro, poeta."
Patrícia do Amaral Borde nasceu em 1988, em Niterói, RJ, e vive desde 2019 em Porto Alegre, RS. Artista visual, escritora, educadora e mãe do Caetano, é apaixonada por arte, poesia e crianças. Mestra em Educação pela Universidade Federal Fluminense, frequentou disciplinas nas Letras (UFF), na Escola de Belas Artes (UFRJ), e fez fundamentação em artes na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, RJ. Escreve desde os nove anos, quando iniciou seus diários e se encontrou com a literatura. Atualmente se dedica à escrita de seu segundo livro, ao estudo da cerâmica e à investigação de novas materialidades poéticas.
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