Sobre a Queda de uma Pétala
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- Calcular freteExemplar de ecopoesia, o livro realiza uma análise surpreendente da pétala que cai. Disposto, como nas obras de filosofia, em tratados, artigos e parágrafos, ele examina, com extrema originalidade, os aspectos culturais e alegóricos mais impressionantes desse pequeno ― porém importantíssimo ― evento ambiental.
No primeiro tratado (éthos), a partícula floral, descendo sobre o mundo antagônico, é descrita como uma força adversa, pois se opõe ao pétreo, símbolo da morte (art. 1); libérrima, pois abre saídas (art. 2); e profética, pois transcende e cura (art. 3). No segundo tratado (gérmen genésico), ela é a demiurga na formação de um novo mundo e se relaciona com os elementos da natureza: terra, ar, fogo e água, tornando-se pétala térrea (art. 1), aérea (art. 2), férvida (art. 3) e hidrosférica (art. 4). No terceiro tratado (theatrum belli) e no quarto (sete prélios), a obra descreve os combates artísticos, morais e místicos entre o inferno apétalo (art. único) e a flor, entre a vogal obscura /ô/ e a vogal luminosa /í/, apresentando-nos a pétala bélica (art. 1), épica (art. 2), cinética (art. 3), estética (art. 4), mélica (art. 5), ascética (art. 6) e celeste (art. 7).
Alegoria de tudo o que desce e avança heroicamente sobre o espaço-tempo (o ser humano, a beleza, o dom, a graça, o sonho, a esperança, o ideal, o amor ou a arte), essa pétala mínima e cadente é capaz de modificar a realidade opósita contemporânea, cuja descrição, nos 105 poemas, revela as chagas da civilização: morte, violência, pobreza, fome, prostituição, peste, guerra, poluição, ratos, fezes, doenças, angústia, stress, fobia, pânico, depressão, loucura, suicídio, machismo, estupro, extremismo, abuso e terrorismo.
Marcada pelo rigor formal, pelo léxico heteróclito e pelo discurso incomum, Sobre a queda de uma pétala convida o leitor a fruir e assimilar, longe dos clichês, uma lição existencial preciosa: podemos, mesmo flanando em direção ao fim, fixar um rastro de luz na história.
Adriano Wintter (1971), poeta e tradutor, nasceu e reside em Porto Alegre, Rio Grande do Sul. É autor de A Busca da Luz (1991-1992), Luz Léxica (1993-1995), Apotheosis (1996), Polimusa (2010), Mero Verbo (2010), Porto Alegre Desolada (2011), Clara Mimese (2012), O Ciclo do Amor Recomeça (2013), Ágrafo (2014), O Plectro & as Horas (2015), Quórum de Luz (2016), Sob o Baque do Belo (2017-2021) e Totelimúndi (2022), inéditos reunidos em Suma Lúcida (2023).
Publicou em antologias e coletâneas de premiações. Foi traduzido ao inglês, espanhol e catalão, colaborando em revistas da Espanha, Portugal, México Argentina, Chile e Colômbia; além das publicações nacionais, como: Revista da Academia Brasileira de Letras e Sibila. Traduziu, entre outros: Alfredo Fressia (Uruguai), Fernando Bensusan (Espanha), José Kozer (Cuba) e Victor Sosa (Uruguai),