Estranheza sem plateia
Modelo: Thomas P. Boettcher
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Características
Estranheza sem Plateia, de Thomas Boettcher, é um convite poético à uma humanidade pautada na vulnerabilidade, sem pretensões de aplanar os terrenos curvos da vida, do corpo e do mundo. Brincando com paradoxos, o autor mergulha sem medo no oceano ambíguo de ser simultaneamente grande e pequeno, esperançoso e cínico, refletindo a natureza do mundo que é tão belo e ainda assim, incompreensível e trágico. Desse jeito, encontra na potência das palavras uma forma de perfurar o véu das dualidades absolutas, de olhos abertos para uma existência que desafia as lacunas lógicas do nosso cérebro que busca um sentido em cada acontecimento. A obra comove por traçar o mais elevado rumo de propósito que a arte pode tomar: pegar o sofrimento e o transformar em beleza. Costuradas pela poesia, as angústias do eu-lírico deixam de ser apenas feridas para se tornarem um mapa onde cada leitor encontra nelas um pouco de sua humanidade sensível, sua solidão, inseguranças e anseios. Tecendo paralelos entre temas íntimos e universais, os versos de Thomas desenham um diálogo do Eu com o mundo, num enlace marcado por encontros e estranhamentos. Ainda que perpasse por múltiplas temáticas, tanto de cunho filosófico quanto emocional, o que chama atenção como ponto que entrelaça uma narrativa é a sinceridade que o eu-lírico expressa nas suas palavras carregadas de sentimento e perguntas. Como o título diz, o estranhamento é um estado perene de questionamento, tirando o manto de normalidade das coisas para perceber a realidade com um olhar curioso. Os poemas deste livro são um convite, um chamado, uma janela para vislumbrar o mundo e o tempo por uma perspectiva inusitada, bonita e triste. Dessa forma, imita a vida no teor genuíno de seus paradoxos. Agora, a platéia se faz. Os olhos se voltam para as perguntas, que se espalham como dentes de leão. E nesse silêncio entre respostas, o que sobra é o encanto do estranho, mesmo que doído e assustador, contado na maestria poética que carrega esses pontos de interrogação até as entranhas da mente.
Thomas P. Boettcher é natural de Porto Alegre, RS. Psicólogo pela Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA), sempre se utiliza do aprofundamento psicológico como ferramenta narrativa. Entre 2020 e 2022, publicou 35 contos em antologias, revistas e editoras diversas. É autor também de Fantasmas no Hipocampo (contos, 2022) e Poeira nos Olhos e Outros Incômodos Poéticos (poesia, 2022).
