Antígona
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- Calcular frete"Carlos Nejar quis manter a beleza poética da tragédia ?sem perder a ternura? e sem estereotipar Antígona como heroína que defende a tradição do sangue e da família (oikos) contra uma visão unilateral do ?tirano? Creonte, como defensor da lei da cidade , lei dos homens, lei do Estado. Em meu livro Os itinerários de Antígona: a questão da moralidade (1992), tentei revisitar essas versões idealizadoras. Na mais difundida entre elas, Antígona procura enterrar segundo os ritos sagrados, seu irmão Polinice, que batalhara do lado dos habitantes de Argos, inimigos dos tebanos. A pergunta então é por que Antígona está disposta a sacrificar sua vida, rebelando-se contra a proibição imposta por Creonte de enterrar somente um dos irmãos fratricidas, Eteocle, e deixar como Polinice, ?traidor? (de Tebas) entregue aos ratos e corvos? Tive a surpresa de encontrar no poema dramático de Nejar resposta a essas perguntas semelhante à que eu esboçara em meu livro. Na minha leitura da tragédia de Sófocles, apoiei-me em Hegel e Jean Hypolite que atribuem aos dois personagens centrais - Antígona e Creonte - a oposição de dois princípios éticos: o da natureza e o da cidade (Estado). Segundo esses dois filósofos, Antígona estaria se identificando com o primeiro (natureza) desses princípios, muitas vezes associado ou confundido com o princípio do sangue, da família e do oikos; Creonte, por sua vez, estaria identificado com o princípio da ética da cidade, comunidade, do Estado.
Carlos Nejar, no ano de 2020, completou sessenta anos de literatura, com a publicação de O Evangelho segundo o vento (ficção); Sélesis; Livro de Silbion (poesia) e A tribo dos Sete Relâmpagos (romance). O escritor gaúcho, traduzido em várias línguas, tem sido estudado em universidades do Brasil e do exterior. Foi indicado, no ano de 2019, ao Prêmio Nobel de Literatura, com apoio da Academia Brasileira de Filosofia, Academia de Letras de Brasília, Pen Clube e inúmeras instituições culturais do Brasil e do Exterior.