Este trabalho resulta de uma pesquisa de campo realizada entre agosto de 2018 e março de 2019, no Sul de Moçambique, onde o autor testemunhou diversos rituais associados ao lobolo, rito tradicional que une conjugalmente duas pessoas, conectando-as com uma comunidade de vivos e o universo histórico dos antepassados numa relação complexa de parentesco. A prática essencial envolve dar bens à família da noiva para realizar uma união reconhecida entre os parentes do noivo e os da noiva. O objetivo central da pesquisa consistiu em analisar o sincretismo presente no lobolo. Na etnografia realizada, percebeu o sincretismo das dimensões religiosas, demonstrando que o lobolo é uma tradição dinâmica que envolve múltiplos elementos identitários dos sujeitos. Nesse sentido, procurou entender como os atores sociais mobilizam signos do curandeirismo, do cristianismo e do islamismo, para conversar com os mortos por intermédio do lobolo, inclusive com intuito de evitar acontecimentos indesejáveis no futuro. Diferente dos pressupostos da ciência moderna, que classificou a tradição dos povos africanos como estática, homogênea, e, portanto, hostil a mudanças, o lobolo não pode ser interpretado como uma cópia exata de uma prática anterior, porque é criado e recriado por meio de interações sociais e históricas, assumindo várias formas de acordo com o contexto. Analisei os principais elementos constitutivos desta prática matrimonial em dois lugares distintos do Sul de Moçambique: na Cidade de Maputo e no meio rural de Gaza, na tentativa de verificar as diferenças e similaridades entre estes espaços e fundamentar o debate sobre o conflito entre a ?tradição? bantu e os valores ?modernos? ocidentais.
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