As obras, vestígios e discursos de Cenair Maicá nos remetem a uma análise histórica e sociológica de uma região e seu povo. Por meio de um canto regionalizado, porém, ao mesmo tempo universal, foi uma das vozes mais respeitadas no cenário musical do Rio Grande do Sul, interpretando os sentimentos do camponês e, com astúcia, desenvolvendo um senso crítico diante das dificuldades sociais e econômicas que relegam o homem a uma vida à margem da cidadania. Cenair fala e canta sua aldeia, havendo lugar em sua obra para o homem rural e o índio. O primeiro, esquecido pelos governantes, expulso dos fundos de campo, abandonado nos corredores para se transformar em um sem-terra; enquanto o segundo, o índio, reverenciado pela história e marginalizado pela sociedade, sobrevivia à margem das estradas. Apesar da breve existência, tendo falecido aos 41 anos, comprovadamente deixou um legado que chama atenção pela qualidade e seriedade com que foi elaborado. Não foi um artista fabricado nos laboratórios das indústrias fonográficas e não vendeu sua imagem à custa da transformação de seus ideais, pelo contrário, impôs através de sua voz ?um canto pelo humilde e o suor de seu trabalho?.
Historiador Valter Portalete
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